Ela se olhou no espelho e viu que sangrava. Sangue sem dor, so o incomodo e o vermelho. Como um nariz sangrando.
Mas aqueles dias estavam nublados, e sua pele branca, e sua roupa preta.. Por isso, o sangue ficava ainda mais vivo, embora nao doesse.
So que ela precisava respirar fundo, porque naquela hora ela sentia falta de respirar. E por isso as gotas caiam mais frequentes, sem parar, cada vez que ela expirava.
E o sangue que nao saia, descia pra garganta e ela engolia. Nao doia, mas tinha o indiscutivel gosto de sangue.
Ela engolia o que nao caia no chao branco, onde ficava ainda mais vermelho. Seus olhos estavam arregalados, e seus movimentos, descontrolados, porque sangue nao se discute. Mesmo sem dor.
Ate que ela esbarrou no vidro que caiu no chao. Caiu em cima do sangue vermelho-vivo e se quebrou. Ai, com aquele cheiro forte, ela soube que era um perfume.
Continuou ali, em frente ao espelho. Respirava fundo, alternando o gosto de sangue sem dor com o cheiro de perfume sem prazer.
Talvez aquele fosse o cheiro do sangue, pensou. Um cheiro vermelho e vivo, sem duvida. Mas ao pensar isso, ela sentiu um enjoo forte, talvez vermelho tambem.
E as coisas comecaram a rodar, enquanto as gotas caiam. E tudo rodava, rodava, rodava. Como uma ciranda, ou uma montanha russa, dependendo do que voce quer ver: dor ou nausea.
Ela tentou pedir ajuda, mas todo mundo rodava tambem. Em rotacao e translacao. E ela tentou mudar o sentido, a velocidade ou o angulo, mas nao adiantava porque, no fim, tudo continuava a rodar, confuso.
foi ai que ela gritou. Um grito forte. Com cheiro de sangue e gosto de perfume. E o mundo todo podia ter parado para ouvir aquele grito, mas ninguem ouviu porque todos rodavam...
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