O Brasil, já tendo superado sua crise de colonizado, carrega como herança o trauma da Ditadura Militar. A palavra é tabu, os militares mal-quistos e até a moda da roupa camuflada levanta discussões sobre heróis e bandidos. Votamos em jogadores de futebol, votamos em palhaços, mas a menor ameaça de ditadura já é suficiente para afastar os eleitores. Se quer proibir que vá para a América Hispânica, acá no!
A lógica da ditadura é fazer calar. E os brasileiros falam que gostam de falar (ironicamente, tivemos durante a Ditadura Militar uma produção artística incomparável), daí sua rejeição. É uma lógica extremista, grosseira até. Exige técnicas trabalhosas e por vezes violentas de inibição, controle e exclusão do discurso. Sem dúvida, uma política antiquada e pouco inteligente.
Chega então a solução com essa nossa democracia (do indo-europeu, governo do demo). A lógica é invertida, vêm as eleições e as pessoas são forçadas a comentar sobre as fotos e frases e declarações que inundam todas as casas, toda a cidade. Do silêncio forçado ao fazer falar!
O voto é secreto, mas é impossível ficar calado se democracia é festa, se número de candidatos vira jingle e se os comícios nos imploram para que gritemos nosso segredo.
Depois de um farto banquete de palavras, vem a sobremesa para alguns. Euforia de um lado, luto do outro - a linha é tênue entre política e futebol. E daí, nada mais natural que uma longa digestão - de dois anos, no caso...
Sem as fotos, sem os jingles, sem a ilusão de que o cerrado é aqui, parece ser nossa escolha ficar calado. O esforço (pontual) é para que falemos, o silêncio é opção. E na próxima vez que abrirmos nossas bocas cheias de pipoca no horário eleitoral será de novo para dizer que a culpa é do sistema, que não podíamos ter nada feito, que esses aí são todos iguais... Sentados no comodismo tão planejado, que temos a ilusão de ser fruto de nossa revolta.
Um comentário:
Muito bom seu texto Fernanda!
Obrigado pela visita lá no meu blogontheroad.com
Até já,
Marcos
Postar um comentário