quinta-feira, 10 de março de 2011

Para meu irmão,
A primeira carta que te mando chega ainda antes do seu endereço. Chega sem uma ida ao correio, sem o CEP anotado em algum papel que eu certamente esqueceria em casa, sem a espera na fila, sem o mistério de que caminhos aquele pedaço de papel percorreria até ir do sudeste ao centro-oeste em dias de chuva. A primeira carta que te mando vai rápida e despreparada como você foi, sem aviso prévio, sem um esquema tático, no calor da saudade que percorre e aquece tão rapidamente essa quantidade absurda de quilômetros que agora nos separa.
Essa carta chega virtual como tem sido nosso contato no último mês (nossa, já?!) e me faz perceber que a tecnologia tem, sim, trazido as pessoas para mais perto, e que qualquer filósofo de botequim ou professor de português mal-humorado que disser o contrário nunca sentiu o aperto da saudade saciado em uns cliques. E chega, apesar de tantas facilidades para a comunicação, com vários assuntos já atrasados.
Escrevo no dia do seu aniversário, então não poderia deixar de te desejar as felicidades tantas que você merece e terá, mas escrevo para dizer as coisas todas que tenho me calado nesses 24 anos e que a separação trouxe à tona para mim. Se família está no topo da minha lista de assuntos-contraditórios, você ocupa o lugar mais alto das certezas. Meu irmão mais velho que soube tão bem cuidar de mim por tantos anos e a qualquer momento... devo a você muito aprendizado, muita paz de espírito, muito carinho, muito amor que às vezes, por falta ou por miopia, eu não vi chegando dos outros lados. Você nunca me faltou e o calor da amizade fraterna que construímos – eu posso bem dizer – não tem nada a ver com essa simples coincidência de dividirmos traços genéticos. Somos amigos porque soubemos construir uma amizade, porque soubemos nos entender, porque descobrimos um jeito de não deixar as bombas atiradas de todos os lados caírem no meio de nós.
Com você – e não por você ser meu irmão, repito, mas por você ser o Gabriel – aprendi como é fácil construir uma relação intensa e sincera, desde que haja empatia e solidariedade o suficiente. E entre tantos aprendizados que você me trouxe, o maior é o do altruísmo. De saber compartilhar, doar, dividir, multiplicar. E é só para deixar você orgulhoso de ter me ensinado isso tão bem, que eu te deixo seguir esse caminho que te leva pra tão longe, mesmo sofrendo tanto por não te ter mais aqui.
Com as felicitações do 10 de março e o amor de sempre,
Fernanda

Um comentário:

Maíra disse...

Simplesmente lindo!!!